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domingo, 28 de agosto de 2011

CUIDADO COM USO DE ANTIBÓTICOS . TOME-O SEMPRE CONFORME RECEITA MÉDICA.

Resistência bacteriana
Bacterial resistance

O primeiro antibiótico, a penicilina, foi descoberto por Alexander Fleming, em 1929, em um hospital londrino. Anos mais tarde, com o advento da Segunda Guerra Mundial, foi imperativo que se estudasse e que se pesquisasse mais a quimioterapia moderna, pois com a guerra eram inevitáveis os ferimentos e, com eles, as infecções. A penicilina foi então extensamente utilizada contra estafilococos e estreptococos, grandes causadores de pneumonias, infecções aéreas superiores, septicemias etc. A nova droga tinha grande capacidade em dizimar essas infecções e, ainda, atuava de acordo com os princípios da quimioterapia moderna, ou seja, com toxicidade seletiva.
A resistência à nova droga foi descrita quase que imediatamente, bactérias produtoras de penicilinase, hoje chamadas b-lactamases, sobreviviam à terapêutica clínica e só altas doses efetivamente atingiam sucesso, concentrações inatingíveis sem efeitos de toxicidade. Inicialmente o fenômeno da resistência bacteriana não parecia ser um problema tão grande. Foi temporariamente resolvido com a introdução de novos agentes antibacterianos, tais como os aminoglicosídeos, macrolídeos, glicopeptídeos e ainda alterações estruturais nos compostos já existentes que refletiam em alteração de sua atividade e espectro antimicrobiano. Hoje se conhecem microrganismos multirresistentes, não sensíveis a quaisquer dos antibióticos disponíveis clinicamente, levando rapidamente à morte pacientes hospitalizados. Esses casos são cada vez mais frequentes, inclusive no Brasil.
As bactérias têm sido classificadas como resistentes ou sensíveis de acordo com dados de CMI (Concentração Mínima Inibitória) CMB (Concentração Mínima Bactericida). Mas, geralmente, um dado microrganismo é sensível ou resistente apenas quando se observa o sucesso ou insucesso terapêutico, respectivamente. Visto isso, deve-se encarar a terapêutica de uma maneira mais abrangente, menos simplista, considerando-se: droga, microrganismo, farmacocinética e imunidade do paciente.
A aquisição de resistência tem diminuído muito a atividade de importantes antibióticos, servindo como objetivo maior de pesquisadores para a busca de novas drogas, associações ou esquemas terapêuticos.
É preciso que se entenda que antibióticos exercem a chamada "pressão seletiva", ou seja, em contato com microrganismos exercerão sua atividade, levando à morte as cepas sensíveis sobrevivendo então as resistentes. Com o uso frequente, essa seleção leva ao predomínio das cepas que de alguma forma sobreviveram, multiplicaram-se e agora são maioria. Portanto, fica claro porque em ambientes hospitalares ou comunidades sem qualquer controle no uso dessas drogas o aparecimento de cepas multirresistentes é mais frequente e também mais complicado.
O uso indiscriminado, irresponsável e ignorante de antibióticos, terapeutica ou profilaticamente, humano ou veterinário, passando ainda pelo uso no crescimento animal e propósitos agrícolas, tem favorecido a essa pressão seletiva, mostrando como resultado a seleção e predominância de espécies cada vez mais resistentes.
Em um artigo publicado na Inglaterra, em 1998, o autor mostra dados relativos ao uso de antibióticos no mundo. Mostra que de todas as drogas utilizadas, 50% se destinam a uso humano e 50% ao agroveterinário. Da fração de drogas usada em humanos, 20% são em hospitais e 80% comunitátria. Desse montante, calcula-se que de 20% a 50% não haja necessidade de uso. Para o uso veterinário, os dados são mais alarmantes, 20% são usados terapeuticamente e até 80% para uso profilático e promoção de crescimento. Estima-se que até 80% do uso agroveterinário é altamente questionável.
Alguns autores ainda condenam o uso indiscriminado e sem controle de antibióticos contra acne, o uso exagerado em hospitais, o uso em pacientes com presença de H. pylori sem lesão ulcerosa e, ainda, defendem um maior controle do uso em odontologia, pois genes de resistência do Streptococcus pneumoniae parecem ter se originado de estreptococos da cavidade oral. O uso indiscriminado não se relaciona diretamente com a pobreza ou falta de recursos de um país.
Com o uso crescente e indiscriminado de antibióticos, através de pressão seletiva, permaneceram vivos apenas os microrganismos capazes de se defender da ação da droga.
O que deve ser feito para se combater o aparecimento e disseminação de exemplares resistentes? Algumas estratégias vêm sendo adotadas pela comunidade científica para o controle da resistência bacteriana.
O uso indiscriminado de antimicrobianos ( antibióticos) sem dúvida foi o que nos levou ao estado de alerta atual. O uso descontrolado na agricultura, no desenvolvimento e crescimento pecuário e avicultura selecionou microrganismos altamente resistentes. Por tudo isso, parece ser esse o caminho da volta, ou seja, um controle mais rígido no uso de drogas, desde sua venda em farmácias, passando por um maior controle e conscientização no uso agropecuário e, finalmente, usado de forma mais racional e prudente em clínica. A área multiprofissional da saúde e principalmente a população tem de ser informada e conscientizada do real e grande problema que isso significa. O uso hospitalar tem de ser altamente controlado, pois é nesse ambiente que se criam com maior frequência os exemplares multirresistentes. Os clínicos devem respeitar as decisões e deliberações das comissões que padronizam o uso de drogas no hospital, pois elas são escolhidas com base na microbiota local e no padrão de sensibilidade dos microrganismos mais encontrados. Portanto, o controle no uso de antibióticos e combate à resistência bacteriana tem de estar alicerçado em dois pontos fundamentais: educação e comunicação. Todos os profissionais de saúde devem estar juntos nesta luta, cada qual exercendo seu papel, se informando e policiando-se cada vez mais.

Fernando de Sá Del Fio ( Doutor em Farmacologia pela UNICAMP); Thalles Rocha de Mattos Filho ( Professor Titular de Farmacologia UNICAMP) ; Francisco Carlos Groppo (Doutor em Farmacologia pela UNICAMP).

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