CLÍNICA ALPINO

AUDIOMETRIA, TRIAGEM AUDITIVA NEONATAL, FIBRONASOLARINGOSCOPIA, BERA.
DOENÇAS DO OUVIDO, NARIZ E GARGANTA

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

ACHAMOS QUE TEMOS A VIDA NAS MÂOS!

  • Após várias consultas pela manhã me atentei num cliente hoje no consultório. Parecia diferente. Estava tranquilo, olhar sereno, diria que filosófico. Atitudes calmas, fala mansa, pausada. Diferente das outra vezes que já esteve por aqui, sempre apressado, querendo resolver seu problema de excesso de cerume nos ouvidos.  É empresário de sucesso, tem seus 60 anos de vida, bem vividos. Me disse que foi operado do coração ha 2 semanas. Passou mal enquanto fechava mais um rentável contrato de trabalho e foi levado ao Hospital Margarida. De lá, foi encaminhado urgentemente para Belo Horizonte. Foi operado e submetido a 2 pontes de safena e esteve 2 dias no CTI.  A cirurgia foi um sucesso e sua recuperaçao vai muito bem. Sua vida então, mudou. Seu olhar mostra muito isso.  Perguntei como se sentiu durante todo esse tempo e como estava se sentindo agora depois do susto da cirugia. Ele entâo respirou fundo, olhou me nos olhos e disse  então:  Doutor, sempre corri muito, a vida inteira, adquiri muita coisa, ansiava fechar bons contratos e poupar um pouco a cada mês. Sempre pensei no meu patrimonio, mas nao tinha noção alguma da vida que vale a pena ser vivida. Somos todos assim.  Como assim, perguntei? A vida Doutor. A gente pensa que tem a vida, as coisas, o tempo e as pessoas nas mãos. Mas eu pude sentir que vivemos uma vida que absolutamente ,não temos controle nenhum de nada, nada... de nada mesmo entende? E continuou: Passei mal e quase morri. Vi a morte de perto... vi a correria dos médicos e equipe, vi a vida dentro de um CTI  e nao sabia nada sobre o que aconteceria comigo. Nao podia me movimentar, nao podia sorrir, nao podia ver minha família, não podia sentir o cheiro de café, do perfume da minha esposa. Só via  a forte luz da sala  o tempo todo, tubos e ouvia o barulho de equipamentos e pessoas conversando. Pensava... será o meu fim? Repensei pesadamente e muito sonolento minha vida inteira e pensava: tanto trabalho, luta, preocupações para nada. Cai de repente e estou morrendo. É o fim. Pois é Doutor, hoje estou aqui e agradeço a Deus pela oportunidade de uma nova vida. A vida em si já é uma benção. Não pensava, mas hoje eu saboreio mais e melhor todos os momentos, sinto melhor o cheiro das coisas, mastigo os alimentos mais devagar, consigo andar com minhas pernas e respiro profundamente um ar gostoso de uma manhã fria. Sinto melhor meus pulmões, meu coração e estou vendo beleza em tudo Doutor. Tô mais emotivo. Nunca havia sentido, percebido ou pensado nisso. Poderia não estar mais aqui, mas o crescimento espiritual que tive com essa experiência me colocou mais próximo de Deus. Hoje não tenho pressa, vi que nâo adianta. Pois não sou dono de mais nada, nem da minha própria vida. Meu maior patrimônio é apenas a minha saúde e o dia de hoje que eu tenho para viver. Entâo , limpei os seus ouvidos (afinal sou otorrino) e me despedi dele com alegria. Pensei: Certamente o mundo seria diferente se as pessoas se ocupassem simplesmente com o essencial . Então, me lembrei de MARIO DE ANDRADE.  Deixo essa poesia para vocês saborearem.

  • O ESSENCIAL

    Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

    Tenho muito mais passado do que futuro.

    Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

    Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

    Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

    Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

    Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

    Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

    Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

    ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

    Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…

    Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,

    Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

    O essencial faz a vida valer a pena.

    E para mim, basta o essencial!"

    (
    Mario de Andrade)

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